Para esta semana, em que temos o feriado do Dia do Trabalho, convidamos o grupo do projeto Práticas em Clínica do Trabalho para escrever um pouco mais sobre a importância do espaço que o grupo oferece a quem vive situações de sofrimento no trabalho. O texto, escrito a seis mãos, é assinado pelo estagiário de psicologia Arthur Veleci, pela Psicóloga Laene Gama e pela Profa. Ana Magnolia Mendes.
Práticas em Clínica do Trabalho
O projeto Práticas em Clínica do Trabalho constrói-se pelo atendimento clínico individual, referenciado no projeto de pesquisa Escuta Clínica do Trabalho que articula a teoria e a clínica psicanalítica com a crítica social. Tem como propósito construir destinos políticos e éticos para o sofrimento, atuar no tratamento das psicopatologias e nos processos de adoecimento no trabalho.
É realizado na Clínica-Escola CAEP/UnB – Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos da Universidade de Brasília por estagiários de graduação e de pós-graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Supervisão Clínica: Profa. Ana Magnólia Mendes, Coordenação: Laene Pedro Gama. Contatos: clinicatrabalho@unb.br; +55 (61) 993707480 (wpp).
O trabalho possui diversas definições e, ao longo da história humana, sempre se fez presente. Essa atividade não é apenas uma relação de emprego e salário, ao contrário, possui um papel central para as pessoas. É comum, quando perguntamos a alguém: “quem é você?”, escutarmos a profissão da pessoa como resposta, isso demonstra a importância do trabalho para os indivíduos. O marco da escuta clínica que permeia o presente projeto é o pressuposto de que o trabalho promove uma dupla transformação: o ser transforma a natureza com o seu trabalho e o trabalho transforma o ser, logo o trabalho é formador do ser.
Apesar dessa característica formadora e emancipatória do trabalho, a sociedade tem acompanhado, cada vez mais, diversas queixas relacionadas ao sofrimento na atividade laboral, os profissionais são confrontados com rotinas cansativas, cobranças que vão além do limite, atividades repetitivas e a ameaça do desemprego, é comum que os trabalhadores apresentem uma falta de satisfação com os modos de organização do seu trabalho, a divisão das tarefas, o excesso de controles e prescrições, a falta de autonomia, a opressão, o estilo de gestão e suas escolhas profissionais. Frente a esse cenário o projeto Práticas em Clínica do Trabalho é destinado a trabalhadores que vivenciam:
Sofrimento pela falta de reconhecimento, de sentido do trabalho, esgotamento emocional (burnout) e estresse, e pelos sentimentos de inutilidade, de aprisionamento, de injustiça e de desânimo;
Danos psicossociais relacionados a sobrecarga, violência e assédio moral, estresse pós-traumático, acidente de trabalho, processo de readaptação funcional, transtornos psicossomáticos e psíquicos relacionados ao trabalho;
Insatisfação com os modos de organização do seu trabalho, a divisão das tarefas, o excesso de controles e prescrições, a falta de autonomia, a opressão, o estilo de gestão e suas escolhas profissionais;
Pode-se acrescentar que essas situações que levam o trabalhador ao adoecimento, muitas vezes são relativizadas pelos próprios gestores ao tentar naturalizar a opressão. O que torna essas figuras que são centrais na organização do trabalho peças dentro de um sistema que reduz o trabalhador ao nada.
Com a busca desenfreada pelo aumento da produtividade, típica do modelo capitalista de produção, o trabalho vem perdendo sua característica formadora para ser substituído por uma atividade cada vez mais “engessadora”, esse modelo voltado para o mercado atinge desde as repartições públicas, que têm lidado com uma constante precarização e sucateamento de sua estrutura, até a consolidação das leis trabalhistas, que vem sendo flexibilizada e com isso os direitos que ela garante vão sendo tirados da população.
Diante dessas condições, a escuta clínica não dá conta de solucionar todas as contradições do sistema de produção capitalista, mas tenta ser um espaço onde o desejo do trabalhador que sofre seja reconhecido e, por meio disso, ele se descubra como um sujeito do desejo e tenha na sua existência ético-política uma possibilidade de tornar-se um sujeito vivo do trabalho.